PARE O MUNDO QUE EU QUERO DESCER
É isso mesmo! Como escreveu e cantou Raul Seixas, em
meados do século passado, eu também quero me ausentar um pouco deste mundo
violento, insensato, desumano. É claro que gosto de viver – embora a morte não
me assuste – e de que adiantaria com ela me amedrontar?! –, mas não estou mais
conseguindo conviver com tudo que tenho presenciado. É demais!
Até pouco tempo atrás, tudo o que hoje me apavora,
eram notícias veiculadas pela mídia, longe de mim, da minha família, da minha
rua, dos amigos. Vejo, agora, que tudo mudou: sinto um medo racional que penso
não ser apenas meu, mas de todas as pessoas que, como eu, sempre pautaram a vida pela dignidade e pelo respeito ao
próximo. Também me assusta a resposta que a natureza vem dando à
irresponsabilidade como é tratada: a humanidade precisa dela, enquanto ela seguiria
seu rumo muito bem e até melhor sem a presença do homem na Terra. Quanta
ironia!
Mas o que realmente me amedronta? São tantas as minhas
preocupações que cito apenas algumas dentre elas.
A destruição dos núcleos familiares; o desrespeito à
pessoa humana, cujo bem-estar – e mesmo a vida – para alguns não vale
absolutamente nada; a falta de segurança dentro e fora de nossas casas, o
desrespeito a crianças e idosos; as drogas que aniquilam e matam; o desrespeito
das pessoas consigo mesmas, a desonestidade nas diferentes esferas sociais.
Tudo isso ainda sem falarmos nos grandes e pequenos gestos que redundam em
imensas catástrofes; nas decisões governamentais mundo afora que a cada dia
destroem mais e mais; nas diferenças religiosas que, em vez de disseminar o
respeito mútuo, acirram ódios incontroláveis que destroem e matam em proporções
cada vez mais assustadoras.
Esse é o desabafo de uma cidadã de 62 anos, filha, esposa,
mãe, avó, irmã, sobrinha, tia, professora e servidora pública, hoje aposentada,
que pensa ter pautado a sua vida pelos princípios éticos e morais com quem tem
convivido ao longo dos anos, tanto intra como extramuros.
Amorosamente, Aliris
1º/ 05/2010
P.S. Hoje, 25 de maio de 2013, ao escolher este texto para compartilhar com
meus leitores, como há três anos, reafirmo minha disposição de pedir que o
mundo pare para eu descer, ou seja, literalmente, me ausentar do que me
amedronta, para expressar em uma só palavra: da violência. Constatei que passou
algum tempo e nada mudou, pelo contrário, os meus medos se mantêm e, em muitos
casos, muito maiores do que em 2010.