... e a história
continua a mesma
Marielle, como todos os brasileiros de bem, chorei o teu
covarde assassinato. Meu sofrimento foi pungente porque vivenciei o fato como
mulher, mãe de família, profissional (hoje aposentada) e, sobretudo, como
sobrinha de Helena Ferrari, uma das primeiras vereadoras brasileiras, eleita, em
1951, pelo, então, Partido Trabalhista Brasileiro para seu primeiro mandato em
Santa Maria.
Minha tia não levou tiros como tu, Marielle; ela foi sendo
morta covardemente, um pouco por dia, perseguida pela sua audácia, pelo seu
destemor de apontar o dedo à corrupção e aos mandos e desmandos, mas,
principalmente, pelo preconceito, pela impossibilidade de realização de seus
mais legítimos direitos. Enfim, por ser mulher!
Helena Ferrari sofreu muito e não mais suportando o embate de
cada dia, se “exilou”, em pequeno espaço de uma residência da família, na rua Tuiuti,
até que a demência por Alzheimer, certamente, a fez menos infeliz pelo
esquecimento característico da doença.
Marielle, assim como minha tia Helena e tantas outras
mulheres, vocês foram mártires de uma causa e deixaram um legado inestimável:
abriram caminhos para outras mulheres que ainda lutam e lutarão por um mundo
melhor e mais justo.
Aliris Porto Alegre dos Santos
Publicado no Diário de Santa Maria, em 26.03.2018.