segunda-feira, 20 de janeiro de 2020


O MUNDO AINDA É JOVEM




Acabo de ler, do sociólogo italiano Domenico de Masi, O mundo ainda é jovem: conversa sobre o futuro próximo com a jornalista Maria Serena Palieri, publicado no Brasil, em 2019, pela Vestígio.
Considero esse livro uma leitura obrigatória para quem quer ver o mundo atual sob uma ótica lúcida e realista. O autor dispensa apresentações ou elogios, já que suas idéias e publicações são, há muito, consagradas mundo afora.
Os assuntos tratados nem sempre são de fácil entendimento pelos leitores não-familiarizados com sociologia, economia ou política, mas suavizados por se tratar de uma conversa do autor com a jornalista. As perguntas e respostas tornam a leitura agradável e até parece, às vezes, que são nossas as perguntas feitas por Maria Serena a de Masi. Trata-se de uma viagem ao futuro próximo através de dez conceitos e seus opostos, concluindo com uma advertência, a de que devemos estar atentos, antes “com desassossego do que com placidez”, já que as mudanças, nos últimos anos, acontecem em velocidade estratosférica.
Os conceitos tratados e seus opostos vão de desorientação e projeto; longevidade e velhice; androginia e gêneros; digitais e analógicos; trabalho e ócio; medo e coragem; engajamento e egoísmo; classe e indivíduo; inteligência e sentimentos a felicidade e leveza.
A leitura de cada capítulo, ou seja, dos conceitos e seus opostos, nos faz refletir sobre o mundo atual com suas profundas mudanças, que, de tão rápidas, na maioria das vezes, não há tempo para se deter numa análise mesmo que superficial. Estamos diante de fatos tão novos que, muitas vezes, dificultam nossa tomada de decisão diante dessa ou daquela situação, hoje vista sob ótica tão diversa daquela de 10 anos atrás.
Domenico de Masi nos lembra que da sociedade rural para a industrial passaram-se cinco séculos; da industrial para a pós-industrial, mais ou menos 200 anos. E, ainda explica que “às tecnologias mecânicas e eletromecânicas vêm se somar as digitais e, agora, a inteligência artificial”. Embora vivamos no melhor dos mundos que já houve, as mudanças ocorrem num turbilhão que, de fato, desorienta e amedronta.
Na atualidade, novos valores e formas de viver fazem parte do nosso cotidiano e frequentam, sem nenhuma cerimônia, nossa vida pública e privada.
A linguagem do diálogo é fluente e clara, a tradução de boa qualidade. Do último capítulo, entretanto, esperava mais. Nele, de Masi tratada basicamente da situação política e social da Itália dos dias de hoje e, com clareza, expressa sua preocupação com o pré-fascismo. Minha expectativa era de uma advertência ampla, de aplicação global, se bem que tal análise pode muito bem se aplicar, mutatis mutandis, a outros países: basta que se reflita sobre a realidade de cada nação.
Ao concluir a leitura, não pude deixar de fazer uma analogia desses novos tempos com a teoria evolucionista de Charles Darwin (1808-1882) — sobretudo em relação aos analógicos — “qualquer espécie animal, inclusive o homem, evolui a partir de formas mais simples ou como necessidade de adaptação ao seu ambiente”.

Aliris Porto Alegre dos Santos
26 de dezembro de 2019