SONHO DE ONTEM... REALIDADE DE HOJE
Quando acontecem fatos que nos parecem
tanger o irreal, costumamos lembrar Shakespeare, em diálogo de Hamelet com
Horácio: “Entre o céu e a terra há muito mais coisas do que sonha nossa filosofia.”
O adjetivo “vã” foi acréscimo brasileiro à linguagem tão substantiva do
dramaturgo inglês. Mas, com ou sem “vã”, a frase serve para encerrarmos
qualquer assunto sem muitas explicações.
Ao conversar com crianças ou pessoas
que teriam dificuldade com a linguagem shakespeareana, costumo dizer que Deus, lá no céu, quatro ou cinco vezes por dia,
diz “Amém” e, se concluirmos a expressão de um desejo nosso nesse exato
momento, ele, inevitavelmente, vira realidade...
A explicação, seja a filosófico-literária
ou a popular, em síntese, diz a mesma coisa. E é, nesse contexto, que situo um
fato marcante na minha história de vida e na da minha filha Raquel.
No início dos anos 1980, ela, uma
menininha, assistia comigo a um jornal televisivo, deitada nas almofadas da
nossa salinha de televisão e eu, como sempre, tricotando, meu hobby desde a adolescência. Comum cena
doméstica, não fosse o que, em dado momento, ela me disse, cheia de convicção:
“–
Mãe, quando eu crescer, vou ser “moça de televisão!” E logo acrescentou que diria: “– De Brasília,
Raquel Porto Alegre!”.
Assim pude logo entender que ela queria
ser repórter e não atriz e respondi que achava uma bela profissão e aproveitei
para dizer que era preciso estudar muito, estar sempre atualizada. Papo de mãe!
Passou mais um tempinho e ela me
perguntou se eu achava que o pai iria ou
não ficar magoado de ela não usar “dos Santos”, o sobrenome dele? Respondi que não
porque, além de ele gostar muito do sobrenome Porto Alegre, remete a nossas origens
e aos primórdios do jornalismo e da educação no Rio Grande do Sul. Disse ainda
que seria um nome muito bonito para uma repórter.
O tempo passou, ela se formou
jornalista e, hoje, é “moça de televisão” como sonhou um dia, ainda tão
pequena.
Sempre curto suas matérias, mas ontem à
noite, quando a notícia que ela apresentou, na abertura do Jornal das 10, da
Globo News, sobre o assunto político do dia, decidi registrar por escrito o que
nossa “vã filosofia” não explica. E, com
sempre, eu tricotava enquanto assistia ao Jornal e, juntos, eu e o Nilceu, mais uma vez,
tivemos a oportunidade de nos emocionarmos, com uma pontinha de orgulho, por
nossa filha ter concretizado seu sonho de criança e ser, hoje, uma profissional
competente.
De Aliris, amorosamente, para Raquel e para todas as
pessoas que, acreditando nos seus sonhos, vão em busca de suas realizações.
23.05.2015