RESENHA de TERRA DOS
HOMENS
Recentemente, li Terra
dos Homens, de Antoine de Saint-Exupéry, Editora Nova Fronteira, 149
páginas, tradução de Rubem Braga e introdução de Armando Nogueira.
O livro foi presente da minha sábia amiga Theresa Catharina e
me encantou, me fez sorrir e pensar. E, como Armando Nogueira, também não sei
se “... terá sido a musa da poesia que enriqueceu a narrativa de um notável
piloto ou o próprio destino de piloto fez o escritor voar não só nas asas do
vento como nas asas dos versos?”
Saint-Exupéry, apaixonado por aviões desde a infância,
tornou-se piloto civil aos 21 anos e, aos 26, integrou a equipe do Correio
Aéreo da Europa para a África e América do Sul. Ele e seus companheiros tinham,
diante de si, os desafios do Saara, dos Andes e do largo Atlântico, usando
aparelhos pouco seguros e planos de voos incertos e ainda por serem
complementados e até refeitos.
A narrativa dessas viagens é o pano de fundo para os voos que
fazemos ao ler o livro. Visitamos paisagens desconhecidas; vemos o céu
estrelado, palco das viagens noturnas; sentimos o frio e os perigos dos Andes;
o rigor tanto dos dias como das noites no deserto.
Todos esses desafios, enfrentados pelos pilotos e superados
com força sobre-humana, nos levam a refletir sobre a vida nossa de cada dia,
que impõe coragem, às vezes, hercúlea.
Pela leitura, ficamos conhecendo seus amigos como Néri,
Mermoz e Guillaumet, a quem o livro é dedicado; suas emoções expressas aqui e
ali, dentre as quais destaco, “Até mesmo a nossa psicologia foi subvertida nas
bases mais íntimas. As noções de separação, ausência, distância, regresso são
realidades diferentes no seio de palavras que permanecem as mesmas.”; e também
seus gostos pessoais como pelo café da manhã: “A alegria de viver se resumia
para mim naquele primeiro gole matutino, cheiroso e quente, naquela mistura de
leite, café e trigo que nos liga às pastagens calmas, às culturas exóticas e às
searas – que nos liga à terra inteira.” E, com a sensibilidade aguçada, as
entrelinhas permitem a cada leitor viagens únicas e inimagináveis.
Embora Terra dos Homens
tenha sido publicado em 1939, continua atual, pode-se dizer, atualíssimo como
na afirmativa que merece ser transcrita: “Se às vezes julgamos que a máquina
domina o homem é talvez porque ainda não temos perspectiva para julgar os
efeitos de transformações tão rápidas como essas que sofremos. Que são os cem
anos da história da máquina em face dos duzentos mil anos da história do homem?”
Saint-Exupéry partiu em 31 de julho de 1944, de uma base
aérea na Córsega para uma missão de reconhecimento e seu avião nunca mais
voltou. Ele, entretanto, continua a viajar conosco entre sonhos, estrelas,
dificuldades, superações... novas rotas.
Aliris, em 30.12.20017