MEU CANTO, MEU RECANTO, MEU ENCANTO
É assim que sinto a minha casa, meu
lar, meu refúgio deste mundo nada fácil. Aqui vivemos eu e o Nilceu – quando
nos mudamos para cá, há mais de 20 anos, éramos cinco, mas os filhos, como é
natural, sem esquecer as raízes, bateram asas e cada qual foi em busca do seu
próprio caminho.
Sei que o espaço físico é
grande demais para duas pessoas, mas cada canto desta casa é especial: fala de
passado, presente e, muitas vezes, até de futuro. Acalenta meus sonhos, me dá
conforto, intimidade, inspiração... me faz feliz.
Esta é a casa em que morei por mais
tempo ao longo da vida. Nela passei incontáveis momentos de alegria que os que
não foram bons ou tão bons se esvaíram entre risos, companheirismo, amigos
presentes, visitas de filhos, nora, netos... Enfim, este é o meu mundo!
A minha casa tem espaço para tudo:
amor, amizade, trabalho, introspecção, lazer e, agora, até para artesanato, que
nada mais é do que um espaço de convivência que fortalece amores e amizades se
estreitam mais e mais.
Para o artesanato, inspirada no ateliê da minha irmã
Ana Lucia, montei, há pouco tempo, num dos quartos da casa, o meu.
Como sugere o nome, uma tarde no ateliê, regada
com boa conversa, trabalho descompromissado e chá inglês (presente do Edson e
da Eliane) vale por meses de terapia. Ao juntar retalhos, tecer fios ou
preparar enfeites de Páscoa ou de Natal, a conversa flui, os sentimentos afloram, se firmam,
se confirmam... A minha (três vezes) comadre Tânia sabe muito bem disso!
Amo minha casa tanto no aspecto físico
como no psicológico. É claro que, embora distintos, se sobrepõem: o quadro que
lembra a terra natal, as relíquias de família vistas aqui e ali, os potes
cheios de guloseimas para os netos, mas que os filhos também curtem, a gaveta
do Dudu e a da Bebela com o básico para ficar um ou dois dias com o vovô e a
vovó.
A área externa é também uma delícia. As
varandas – lugar de incontáveis comemorações – merecem destaque especial. Uma
delas abriga a “mesa da diretoria”, com 12 lugares, muito disputada em dias de
reuniões de amigos ou aniversários: os adultos se julgam com a preferência, mas
os jovens também não abrem mão de seu espaço. Uma curtição... pena que, no último
aniversário do Nilceu, minha amiga-irmã Clarice ficou muito desapontada porque,
como chegou mais tarde, teve de se refugiar em outra mesa...ela ficou
inconformada! Nada que não se resolva: hoje ela já tem cadeira cativa. E a
Marinês também: elas são inseparáveis.
O pátio, para me expressar em gauchês
legítimo, com a policromia das flores e árvores frutíferas, encanta! Lá estão a
pracinha, a casa da árvore, a casa de boneca, a piscina e até a Branca de Neve
e os sete anões – meu sonho de infância, e também o Tuco e o Biscoito, os cachorros do Dudu, sempre a
interagir com os que chegam.
Existe também o caramanchão (pérgola) que,
desde outubro passado, adquiriu significado mais do que especial: foi o pálio
de flores amarelas que abrigou a cerimônia civil que confirmou a união do Junior
e da Nonô, juntos há 19 anos.
É, também, no pátio que convivo com
várias espécies de pássaros que têm, por todo lado, casinhas para se abrigarem,
procriarem, quando não são eles próprios que as constroem. O canto dessas diferentes espécies se fundem,
se confundem em harmoniosa orquestra que dispensa maestro ou qualquer outra
formalidade... tudo composto pelo cantar de um, o replicar de outro, outro,
outro... Ouvi-los enfeita meus dias e me faz lembrar, mais uma vez, que a verdadeira
beleza está ao nosso lado. Basta exercitar a sensibilidade para descobri-la!
Por tudo isso, tenho tido, cada vez
mais, vontade de ficar em casa. Aqui tenho ambiente e espaço para fazer o que
gosto: ler, receber amigos e familiares, escrever, bater-papo com pessoas
queridas, tricotar, fazer algumas costurinhas, meditar ou o que mais achar
bom... tudo no aconchego deste teto que me protege, me estimula, me preenche!
É na minha casa que me escondo, na
medida do possível, da brutalidade, do desrespeito explícito – do implícito, é
impossível – enfim de tudo o que não deveria existir.
Acho que estou pondo em prática o que
sempre pensei: “Conquiste as coisas e se de tempo para desfrutá-las”. De fato,
tudo o que hoje desfruto, nada mais do que conquistas, quer no aspecto
material, quer no imaterial que, para mim, é de valor incalculável.
Amorosamente, Aliris
27.11.2014