quinta-feira, 30 de março de 2017









Essa quaresmeira enfeita a minha rua. Ela tem flores o ano inteiro, mas, é claro, na quaresma, são muito mais exuberantes. Fica na calçada da casa da Tânia e do Rogers, amigos queridos.
Aqui um pequeno exemplo da Brasília democrática — acessível a todos, sem exceção — que nos presenteia o ano inteiro com árvores floridas que enfeitam a imensidão do seu céu limitado apenas pelo horizonte.


Aliris Porto Alegre dos Santos

Brasília - DF
AVÓS EM STAND BY





Sei que o título leva a uma dúvida: serão apenas as avós ou também os avôs? Essa dúvida a gramática não esclarece, já que avós é o plural tanto de avó + avó como também de avó + avô, enquanto o plural de avô + avô é avôs, aí sem possibilidade de dúvida. Achei, entretanto, essa ambiguidade muito apropriada ao que passo a escrever.
Seja como for, só a avó, só o avô ou a avó e o avô juntos, a situação é a mesma: basta os netos precisarem e lá estamos nós! Nessas ocasiões, não existem intempéries, horário impróprio, distâncias ou fronteiras (minha amiga Ana Maria que o diga). Os netos precisam de nós e pronto!
A geração de nossos filhos é muito comprometida com suas responsabilidades e faz questão absoluta de dar conta do recado. Sei que não é fácil, mas, como sempre digo, ninguém deve se furtar à grande aventura da maternidade ou da paternidade! É essa convivência ora corrida, ora alegre, ora tensa, ora hilária que constrói vínculos significativos entre pais e filhos.
Nós, os avós, passamos o ano em stand by, mas, quando chegam as férias escolares, ficamos mesmo é de plantão! É levar ao cinema, à consulta que ficou para as férias, à casa dos amigos e também recebê-los em nossas casas, enfim, um sem-número de coisas que eles merecem, é claro.
No final das últimas férias dos meus netos, conversando com minha amiga Sílvia, também avó, chegamos à conclusão de que férias de avós deve ser nos meses de fevereiro e agosto. (Acho que as empresas de turismo ainda não se dera conta disso!)
O mais bonito de tudo é que o stand by do ano e o plantão das férias proporciona aos avós alegria, maior proximidade dos netos, oportunidade de ensinamentos de mão dupla, lembranças gostosas de um aconchego passageiro que, não sei como, se torna duradouro.
Das últimas férias guardei duas rápidas, mas emocionantes passagens: uma com a neta Isabela, a Bebela, 8 anos, e a outra com o neto Eduardo, o Dudu, 14.

Em dezembro passado, eu e o vovô fomos a Curitiba com a Bebela para visitar a cidade, rever meu primo Jairo e família e também assistir à cantata de Natal que acontece nessa época do ano no Palácio Avenida, no centro da cidade. A viagem foi ótima, cumprimos toda a nossa programação e mais um pouco. Ela gostou de tudo, sempre muito alegre e falante, enfim, como no ano anterior, quando visitamos Gramado, uma ótima companheira de viagem.





Um dia, quando estávamos no quarto do hotel, disse pra ela que eu não tinha gostado do espelho do banheiro; ela discordou e me disse que o tinha achado muito bonito e iluminado e quis saber por que eu não tinha gostado? E eu respondi que, com tanta iluminação, apareciam todas as minhas rugas! Ela, na sua naturalidade pueril, me disse cheia de convicção: “— Vovó, nunca vi nenhuma ruga em você!”
Não pude deixar de abraçá-la e dizer que os netos são o que de melhor existe na nossa vida e ainda acrescentei, o que sempre digo, espero que todas as avós tenham uma neta igualzinha a você!

No mês de janeiro, precisei levar o Dudu a uma consulta médica. Na véspera, combinamos o horário em que eu passaria lá e um lanche para depois do nosso compromisso. No dia seguinte, como tínhamos combinado, lá estava eu e veio ele muito charmoso e perfumado.





Logo que entrou no carro, me cumprimentou e começamos a conversar. Para minha surpresa, ele me fez uma pergunta que nem me lembro qual foi e se expressou da seguinte maneira: “— Vó, a senhora...”.
Respondi e, em seguida, perguntei por que ele tinha me chamado de senhora? Ele disse que não sabia e acrescentou: “— Vó, como é legal o nosso jeito de conversar!” Eu concordei e acrescentei, que o tu ou o você nos deixa mais próximos, sem as barreiras semânticas que podem favorecer outros distanciamentos.
Não pude perder a oportunidade e expliquei a ele que, diferentemente de outras famílias, preferimos o tu ou o você, tal como nos dirigimos a nossos amigos. Nessa forma de expressão está implícita a ausência de distanciamento, a hierarquia desnecessária. E completei: família é aconchego, proximidade, convívio pautado pelo amor e pelo respeito mútuo explicitado de diferentes formas, algumas profundamente subjetivas, mas muito bem entendidas pelos integrantes daquela “tribo”.
Enfim, passamos juntos uma tarde que não foi só de compromisso e lanche, mas de diálogo amoroso e divertido. Só não pude abraçá-lo como fiz com a Bebela... ele correria o risco de “pagar um mico sem tamanho”!

Esses são apenas dois momentos do meu viver avoengo que ilumina minha vida e faz meu coração palpitar mais forte cada vez que tenho de sair do stand by porque estar com meus netos é para mim vida, emoção, amor e, muitas vezes, riso incontido.



Dudu e Bebela, amo vocês!
Aliris — 04.03.2017


quarta-feira, 15 de março de 2017

AMOR-PERFEITO



                                     (Minha jardineira)


Que amor de flor, não é mesmo?! Ela nos encanta tanto pela policromia exuberante como pela singeleza de suas flores. O conjunto de algumas, então, deslumbra nossos olhos e enternece nossos corações!
Amores-perfeitos, aqui e ali, estão presentes na minha vida. Meu pai, um apaixonado por flores, todo início de primavera, costumava plantá-los, num canteiro, à esquerda da entrada da nossa casa, e eles floresciam até o início do outono. Nós, as filhas, bem ao estilo “anos dourados”, escolhíamos as que mais nos encantavam e guardávamos entre as páginas de livros grossos para que, mesmo secas, ficássemos com elas por mais tempo. Por muitos anos, vez por outra, ao folhear livros antigos, ainda encontrava uma flor seca que sempre me emocionava. E, acredito, se procurar bem entre os meus “guardados”, ainda encontre alguma.
Com essa vivência tão terna, tão rica, vida afora, sempre que tive oportunidade, parei, com carinho, para admirar essa flor que, além da beleza, fala cheia de intimidade com a minha sensibilidade, a minha saudade...
Por isso, quando minha filha Raquel e o genro, Rodrigo, me disseram que iriam oferecer sementes de amor-perfeito como lembrança do casamento deles, fiquei emocionada. E, mais emocionada ainda fiquei, quando vi as lembrancinhas prontas.





Após o casamento, no início da primavera, como fazia meu pai, plantei as minhas sementes numa jardineira que, pouco tempo depois, ficou, encantadora, belíssima! Pensei que, exatamente como eles escreveram, “quem planta amor, colhe felicidade”, e não pude deixar de refletir sobre o milagre de uma minúscula semente ou de breve olhar se transformar de maneira tão exuberante.
Admirei meus amores-perfeitos, cuidei deles, mas não com a dedicação necessária. O resultado não poderia ser outro: eles foram ficando mais acanhados, alguns murchos e outros até morreram com flores ainda por abrir.
Há poucos dias, numa manhã ensolarada, resolvi cuidar deles com mais atenção: cortei flores murchas, afofei a terra, pus pequenas estacas em alguns e plantei novas sementes nas falhas para recuperar a beleza exuberante da minha jardineira. Ao fazer essa tarefa, foi inevitável refletir sobre a felicidade que colhe aquele que planta. Sim, revivi a experiência: plantei sementes e elas floriram...
E a analogia foi inevitável! Assim é o amor, ele chega a nossas vidas sem muito explicar e nós o acolhemos com ternura e reservamos para ele lugar especial em nossos corações, tal como a terra fofa e fértil da jardineira em que semeei meus amores-perfeitos. Mas para que a florescência tenha vida longa e seu encanto seja, “eterno enquanto dure”, como disse Vinicius de Moraes, é preciso dedicação diária, “adubação” periódica, limpeza das “ervas daninhas”, atenção para essa ou aquela necessidade, às vezes, como fiz, apoio para que não feneça e possa continuar produzindo seus milagres e, com eles, as novas sementes, a possibilidade única do verdadeiramente eterno.
Enfim, minha manhã foi abençoada: me proporcionou uma saudade gostosa, me fez refletir sobre o simples que muitas e muitas vezes esquecemos. Espero, apenas, que não tenha sido tarde demais e eu possa recuperar toda a beleza da minha jardineira multicolorida de amores-perfeitos. E, principalmente, que aqueles que me lerem possam, como eu, parar, refletir, sentir e, sobretudo, amar, com sensibilidade, dedicação, respeito.

Amorosamente, Aliris
18.02.2017