BREVE PENSAR
Como Louise Glück foi agraciada com o
Nobel de Literatura 2020, dediquei uma tarde chuvosa à leitura de seus poemas.
Que tarde linda! Degustei poesias de grande sensibilidade e beleza, andei por
caminhos inimagináveis até que me deparei com o poema A íris selvagem. Embora o estivesse lendo pela vez, ele me pareceu
familiar. Reli uma, duas vezes...e fui em busca de uma referência àquele
familiaridade.
Sem muita demora, estabeleci o elo
entre o poema e as últimas páginas do romance As ondas, de Virginia Woolf que lera há pouco, onde a personagem
Bernard, após seu voluntário “mergulho na eternidade”, usando palavras de Machado
de Assis, expressa sensações semelhantes e, também, sempre entremeadas de
referências à natureza, ao iniciar essa jornada.
Foi apenas uma descoberta ao acaso já
que não sou crítica literária, sou apenas uma leitora que aguça sentimentos,
sensibilidade, atenção para que possa desfrutar, o quanto possível, uma obra
literária.
Aliris, outubro 2020
P.S. Transcrevo a seguir o poema citado,
mas não as últimas páginas de As ondas pela
extensão. Se alguém tiver interesse, entrar em contato comigo pelo e-mail alirisporto@gmail.com .
No final do meu sofrimento
havia
uma saída.
Me ouça bem: aquilo que você
chama de morte
eu
me recordo.
Mais acima, ruídos, ramos de um
pinheiro se movendo.
Então,
nada. O sol fraco
cintilando
sobre a superfície seca.
É terrível sobreviver
como
consciência,
enterrada
na terra escura.
Então tudo acabou: aquilo que
você teme,
se
tornando
uma
alma e incapaz
de
falar, encerrando abruptamente, a terra dura
se
inclinando um pouco. E o que pensei serem
pássaros
lançando-se em arbustos baixos.
Você que não se lembra
da
passagem de outro mundo
eu
te digo poderia repetir: aquilo que
retorna
do esquecimento retorna
para
encontrar uma voz:
do
centro de minha vida veio
uma
vasta fonte, azul profundo.