UMA ESTRANHA SENSAÇÃO DE PAZ
Nunca Porto Alegre me pareceu tão sombria e despida de
seus encantos. Naquela tarde do início da primavera de 1994, lá cheguei para cumprir um
dever de família e acompanhar meu sobrinho Eninho à sua última morada. Assim
pensei!
Os primeiros momentos foram muito difíceis, via no
semblante de cada membro da família a tristeza e a incompreensão que aquele
fato absurdo e inesperado trouxe a cada um; no dos amigos, a perplexidade
diante do acontecido, só se explicando como aquelas coisas inexplicáveis que a
vida às vezes nos impõe.
Naquele ambiente, tudo era tristeza, cada um sofria a
seu modo aquela perda irreparável, pois Eninho representava a esperança e a
alegria. Era, aos 16 anos, uma promessa que a todos estimulava com o seu
sorriso franco e seu jeito ainda moleque de ser.
Mas as horas foram passando e a minha permanência
naquela capela foi, aos poucos, fazendo-me sentir, em meio à minha dor e a de
cada um, que ali pairava uma paz nunca vista nessas ocasiões. E eu fui tomada
de uma tranquilidade tão profunda que me detive para refletir sobre o que
estava sentindo. Concluí, então, que aquela paz, com certeza, era fruto do
próprio modo de ser de Eninho que transcendeu as fronteiras da morte e
conseguiu, mesmo no silêncio mais profundo, contagiar a todos que o rodeavam
com a serenidade que caracterizou sua breve, mas marcante existência e
transmitir a harmonia da nova vida que para ele se iniciava.
Dentro de minhas limitações, assim soube explicar a
mim mesma, naquela ocasião, sensação tão marcante e incomum que senti.
Os anos passaram e vi que me equivoquei ao pensar que,
naquele dia, tinha acompanhado meu sobrinho à sua última morada. Já há algum
tempo, as cinzas de Eninho estão na casa de seus pais e toda a família convive
carinhosa e naturalmente com a singela urna que está numa das salas daquela
grande casa.
Quando chego lá, logo vou “conversar” com ele e sempre
sou tomada pela mesma sensação de paz que descrevi. Talvez, hoje, entenda um
pouquinho mais sobre esse sentimento que me invadiu, continua a me invadir e me
fascina cada vez mais. Mas, como tenho dito, não estou mais muito preocupada em
entender o que nem sempre é de fácil entendimento. Prefiro apenas curtir esses
doces momentos, sabendo que Eninho, de alguma forma, está ali e compartilha
comigo sua paz, sua serenidade, sua energia inconfundível.
Esta é minha homenagem a ele no dia que marca 35 anos
de seu nascimento.
Amorosamente, Aliris
25.07.2013