sexta-feira, 1 de novembro de 2013

PARA  ANA LUCIA, MINHA IRMÃ


  Este caderno é um pequeno e, ao mesmo tempo, grande presente que te ofereço. Pequeno porque comprado numa papelaria qualquer, embora a capa tenha sido escolhida a propósito e com muito cuidado; grande porque, acho, possa ser também uma janela da tua alma, onde se debruçarão os registros miúdos e amorosos de teus cachorros, gatos, gansos, coelhos, galinhas, sem esquecer, é claro, das três franguinhas de unhas pintadas e da visita de uma delas ao veterinário.
Esquece a cronologia que pode até ser um fator limitante, vai escrevendo à medida que um ou outro bicho vem à lembrança ou quando apertar a saudade de algum deles. Mas, é claro, o Itu tem de ser o primeiro do caderno, não necessariamente a ser escrito. É só reservar uma ou duas folhas no início pra história dele!
Lembra que escrever é 10% inspiração e 90% transpiração. Faz como eu: os meus cadernos são apenas inspiração, depois que digito e imprimo, é que corrijo. Essa etapa é uma curtição: leio, releio, acrescento, “desacrescento”, corto, modifico, mas a essência, o sentimento que me fez redigir, é intocável. O Nilceu é, nessa fase, o meu grande interlocutor e conselheiro. Se quiser, posso ser a tua na fase final, se é que um dia tu vais querer mostrar teus escritos, fazer um blog, publicar todos ou alguns deles. Isso é assunto pra mais tarde! No momento apenas escreve sobre o que quiser, o caderno é teu: o reino de tuas lembranças e fantasias. Nele não há censura, erro de português, nada que possa limitar!
Escrever por inspiração é muito gostoso e divertido. Às vezes, ao reler meus escritos, me pergunto: será  que eu mesma escrevi isso? Como não gosto de ficar apenas com inquietações, fui atrás da resposta e, um dia, encontrei, em Fernando Pessoa, uma possível explicação. Ele questiona num poema se não somos “neste mundo apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que aqui nós apenas traçamos?”
 Fica à vontade para escrever, não escrever, rabiscar, colar fotos, figuras, desenhar ou, como dizia a mãe,” para o que melhor te aprouver!” Talvez possas ser apenas caneta e tinta. Nunca se sabe!


                                               Amorosamente,    Aliris
                                         Brasília, 04 de junho de 2013
        

P.S.1: Saiba também: escrever é como cólica, tem de ser naquela hora! Não dá pra adiar!
P.S.2: A primeira página do caderno tem um envelope pra guardar anotações, aquelas que tu vais escrever no ônibus, no avião, nas salas de espera.






ANIME-SE!


Você que me lê e também tem seus escritos – poemas, histórias breves ou longas, reflexões, receitas, dicas, piadas que você anotou ao longo dos anos, seja lá o que for – traga-os a lume! Será uma curtição tanto para você como para todos que tiverem a oportunidade de lê-los.
A esta altura, já lhe passou pela cabeça que eu exponho meus textos nas minhas janelas porque sou professora de português, revisora, já na década dos “sessentas”! Nada a ver!
Escrever, contar histórias, poetar nada mais é do que expor nossa sensibilidade, impressões, ideias, sentimentos... O “gramatiquês” que tanto estudei e usei, pode até atrapalhar porque está sempre a frear a espontaneidade, a fluidez; já os “sessentas” talvez me favoreçam porque  me permitem usar chapéu violeta ou mesmo carregar uma cesta de flores em horas e lugares improváveis ou qualquer coisa que possa parecer estranho, sem nenhuma preocupação ou medo de parecer ridícula! Essa é apenas uma das muitas conquistas da maturidade!
Este é o empurrãozinho que espero lhe dar! Eu tive o meu: um dia, minha filha Raquel me disse que eu deveria ter um blog para publicar meus textos, afinal havia tantas coisas bem escritas (no julgamento dela!) nos meus “cadernos de anotações da vida”, como chamo os cadernos onde escrevo*. Antes mesmo que eu pudesse refletir e tomar a decisão, ela já havia criado meu blog e publicado alguns textos que já estavam digitados e formatados. Creia, essa experiência  tem sido muito gratificante!
Que eu seja a Raquel do seu caminho! Sei de gente que guarda seus escritos, em prosa ou verso, a sete chaves. Aproveite este empurrãozinho e comece já, já! E não se esqueça de anunciar seu blog aos quatro ventos!
Estou aguardando notícias de novos blogs! Não perca mais tempo!


                                            Amorosamente,  Aliris
                                                         30.10.2013


*Cada um tem sua forma de escrever. A minha é sempre a lápis, nos cadernos de anotações da vida. O custoso pra mim é digitar.







    Esse caderno foi confeccionado pela minha sobrinha Luciana, uma grande artista!




PARA ESCREVER: SAIBA!


Já que lhe sugeri compartilhar seus escritos, longe de pretender ensiná-lo, repasso breves lembretes de grandes escritores e até mesmo de “imortais” sobre essa tarefa prazerosa, mas nem sempre fácil – até para eles! Imagine para nós, “míseros mortais”?!

"Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta dizer, como exemplo, que escrevi 1100 páginas datilografadas para fazer um romance no qual aproveitei pouco mais de 300."
(Fernando Sabino)
           
           
"Quando escrevo para mim mesmo, costumo ficar corrigindo dias e dias – uma curtição.
Corrigir é estar vivo."                                                     (Paulo Mendes Campos)

           
"... rapaz, tive sorte de conhecer outros rapazes que também gostavam de ler e escrever.
            Então começou uma fase muito boa de troca de experiências e impressões. Na mesa do café, sentado (pois tomava-se café sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser incomodado), aí eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentários. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo de amizade crítica."                                                        (Carlos Drummond de Andrade)

           
"As palavras certas no lugar certo."               (Jonathan Swipt, escritor anglo-irlandês)

           
"O que se concebe bem
 se enuncia claramente e
 as palavras para dizê-lo
 chegam facilmente."                                               (Nicolas Boileau, poeta francês)

           
"Escrever é um trabalho duro. Uma frase clara não sai por acidente e poucas saem na primeira, na segunda ou mesmo terceira tentativa. Lembre-se disso como consolo nos momentos de desespero."                        (William Zinsser, escritor norte-americano)

           
"Escreve claro quem concebe ou imagina claro."
(Miguel de Unamuno, filósofo espanhol)

"Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta."                                                               (Paul Valéry, poeta francês)

           
"Uma palavra posta fora do lugar estraga o pensamento mais bonito."
(Voltaire, escritor francês)

           
"Reescrevi trinta vezes o último parágrafo de Adeus às Armas antes de me sentir satisfeito."                                              (Ernest Hemingway, escritor norte-americano)

           
"É preciso descascar o texto como quem descasca uma fruta, ir buscar a semente. Escrever é principalmente cortar.”                                                    (Fernando Sabino)


"Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho."
(Clarisse Lispector)

"Tudo que é fácil de ler é difícil de escrever — e vice-versa."         (Telmo Monteiro)


"Tenho a impressão de que a frase nasceu para ser corrigida."                        (Nélida Piñon)


"O processo de escrever é naturalmente o de reescrever. A primeira versão de um texto é apenas um rascunho, não traz mais que o embrião das idéias."                  (Lucília Garcez)

“O estilo deve ter três virtudes: clareza, clareza e clareza.”   (Anatole France)

"Nasce-se para escrever bem, mas é preciso também estudar para escrever cada vez melhor."                                                                                                         (Jorge Amado)

Segundo Jorge Amado, para escrever bem, é necessário:
1º– Escrever sempre, sempre, sempre.
2º– Exercitar-se e aperfeiçoar o texto.
3º– Ler, ler muito.




Essas opiniões que você acaba de ler e que, com absoluta certeza, lhe deixaram mais confortável para escrever e reescrever seus textos quantas vezes julgar necessário, já fizeram parte de meus cursos sobre produção de texto enquanto dei aulas. Assim explico porque, embora já não dê mais aulas, continuo professora: uma vez professora, sempre professora.
  

                                                              Amorosamente,  Aliris
                                                                        31.10.2013