NO DIA DOS PAIS
Minha homenagem a quatro homens e uma mulher que, cada
um a seu modo, têm um lugar especial no meu coração: meu pai, o pai de meus
filhos, meu filho que também é pai, meu neto que, tenho certeza, a seu tempo
também será um grande pai, e minha filha Mauren que, ao ser mãe, viu-se na
contingência de tornar-se “pãe”.
Todos eles que, à primeira vista, parecem tão diferentes,
na realidade são iguais na essência, no amor, na dedicação à família, no
cumprimento do dever, no ombro amigo dos momentos difíceis, no partilhar
alegrias e conquistas.
Falar de meu pai, Alyrio, que há mais de 30 anos se
mudou para o céu – não o imagino em outro lugar! – é uma delícia. Nunca me
permiti tristeza pela nossa separação, porque a sua forma de aceitar e sentir a
vida sempre me inspirou alegria.
Na infância soube brincar com as três filhas como se
fosse mais uma criança; participou de nossos sonhos e vaidades adolescentes;
recebeu os genros como os filhos que não teve; enquanto a saúde lhe permitiu,
conviveu com os netos que guardam doces e pitorescas recordações desse avô.
Tudo isso sem falar das fantásticas histórias que povoaram o meu imaginário infantil
e o das minhas irmãs.
Ele, é claro, era sempre o grande herói. Uma cicatriz
que tinha no polegar direito era a prova da mais fantástica das histórias.
Aquela cicatriz era, nada mais nada menos, do que a marca que ficou da sua luta
com o lobo da floresta em que costumava brincar. Essa é uma das histórias que
conto a meus netos que se emocionam com esse bisavô que, como explico, usando o
linguajar deles, era o “maior legal”.
Pai, contigo aprendi que viver é muito mais que
cumprir deveres: é amar, é compartilhar bons e maus momentos com a nossa
presença, sem muito explicar ou explicar-se. Te amo muito!
Meu marido, Nilceu, o pai que escolhi para meus
filhos, grande companheiro e amigo há mais de 40 anos.
Pelas exigências profissionais impostas pelo mercado
de trabalho do último quartel do século XX, ele soube muito bem equilibrar-se
no papel de marido, pai, profissional e provedor da família, uma vez que se
entregava com afinco ao trabalho para que eu pudesse me dedicar quase que
exclusivamente aos três filhos. Nesse período, eu apenas trabalhava nas horas
em que ele pudesse me substituir.
E, tenho certeza, os filhos gostavam muito dessa
troca. Os quatro corriam dentro de casa, pareciam todos crianças: ele dava as soluções mais inusitadas aos problemas que
surgiam, nunca faltava refrigerante nem chocolate para regar e adoçar as
brincadeiras. Enfim, tudo muito divertido, bem ao gosto da meninada!
Mas havia também os apuros: ele, para o desespero dos
filhos adolescentes, diante dos colegas, os chamava pelos apelidos que eles
preferiam não ultrapassem as fronteiras da intimidade ou pelo fato de ouvir em
casa músicas de Nelson Gonçalves em alto e bom som.
Ah, se todos os problemas fossem apelidos ou músicas
antigas! O mundo seria outro e muitíssimo melhor! Hoje, eles já adultos vivem
outros tempos e cantam com o pai músicas antigas, mas eternas, no videoquê, em
nossas gostosas reuniões com a família e os amigos.
Velhinho, tenho certeza, não decepcionei nossos filhos
com o pai que escolhi para eles. Muito mais que isso, tu és para eles o esteio,
o ombro amigo – embora severo – de todas as horas. Posso te dar um conselho?
Eles já estão adultos, não precisa mais ser severo, oferece apenas o ombro
amigo e deixa tua opinião expressa apenas nas entrelinhas.
Nilceu, contigo aprendi que, por mais difícil que seja
uma situação que se nos impõe, ela sempre traz algo de positivo ou tem uma
lição a nos ensinar. Te amo muito!
Meu filho, Junior, um casulinho fechado, que eu
entendo apenas pelo olhar, relutou um pouco em ser pai, não por medo, mas pelo
excesso de responsabilidade.
Quando o vejo com Isabela muito aconchegada e cheia de
segurança no seu colo, me vejo criança tal a semelhança entre meu pai e meu
filho, quer no aspecto físico, quer no modo de ser.
Logo que a filha nasceu, conversou longamente comigo
sobre como lhe garantir uma boa educação, segurança, estabilidade. Nesse nosso
“filosofar”, falamos sobre o pouco ou nada que as palavras educam e na
importância dos ensinamentos que transmitimos pela “atmosfera” do viver de cada
dia, ao longo do tempo, mas lembrei-lhe que nunca esquecesse que deveria amá-la
sobretudo quando ela menos merecer
porque é, certamente, quando ela mais precisará.
Junior e Isabela, hoje com 5 anos, têm brincadeiras
que são só deles, como arrumar a geladeira da casinha dela ou curtir a coleção
de carrinhos que fazem juntos. Esses doces momentos tão importantes hoje, tanto
para um como para o outro, muito mais o serão quando vistos através do túnel do
tempo. Tenho certeza, ela será, como outras marcantes figuras femininas da
nossa família, muito segura e muito “dona do seu nariz” porque viveu doces
momentos na infância em meio ao carinho responsável que permeia o dia a dia
daquela casa.
Junior, contigo aprendi – de maneira doce, mas firme –
alguns limites que as mães frequentemente esquecem. Te amo muito!
Meu neto, Eduardo, que, infelizmente, não teve a
presença constante do pai, muito se resentiu por essa situação. É certo que
soube – com a presença constante de sua pãe e o apoio de toda a família – muito
bem conviver com a sua realidade nem sempre fácil, embora aceita de maneira
natural e amena.
Como ele também já gosta de “filosofar” comigo, sempre
me fala como vai cuidar dos filhos dele: pretende ser muito companheiro e
assistir com eles a muitos e muitos filmes. Como é bom quando a falta, em vez
de marcar negativamente, nos faz melhores e mais atentos!
Eduardo, é isso mesmo! Esquece o que não foi bom e
transforma tudo em vivências amorosas que, embora não preencham lacunas, te
possibilitarão, um dia, viver com doçura a relação pai-filho. Contigo comecei a
aprender a ser avó, uma das mais ricas experiências de vida e estou sempre
sendo lembrada, por uma frase que tem a “tua cara”: a coisa mais importante na
nossa vida é a família! Te amo muito!
Minha filha Mauren, a pãe, ainda muito jovem, foi
gigante ao assumir, a um só tempo, maternidade e paternidade.
Eduardo, hoje com 10 anos, tem uma relação muito
peculiar com a mãe: ele a vê como mãe, pai, irmã, amiga, provedora do lar, tudo
com muita simetria, o que, às vezes, exige um grito para deixar claro quem
manda e quem tem de obedecer.
A vida, na casa deles, é muito divertida, os problemas
têm as soluções menos prováveis possíveis.Tudo com muito riso e a cumplicidade
dos dois.
Mauren, a vida, às vezes, nos impõe responsabilidades
que não prevíamos, mas te vejo altiva diante da tua realidade. Em todos os
papéis, tu deste ao Eduardo amor, segurança, tranquilidade, companheirismo e já
estás começando a colher os frutos da tua dedicação. Neste momento, como as
sementes foram lançadas em terra fértil, agora só é preciso cuidar para que não
sejam contaminadas por ervas daninhas, é hora de cuidar um pouco mais para ti.
Tu sabes muito bem como fazê-lo.
Minha filha, contigo tenho aprendido a deixar as
coisas acontecerem por si sós, sem precipitações, angústias, antecipações.Te
amo e te admiro muito!
Penso ter homenageado cada um deles ao expressar meus
sentimentos, minha gratidão e a certeza de que todos eles – cada um no seu
papel – tiveram relevância decisiva para que eu seja o que hoje sou: filha,
esposa, mãe e avó que curte, com emoção e alegria, cada uma dessas facetas da
vida. E mais, todos eles continuarão a me inspirar e a me ensinar vida afora
como têm feito ao longo dos anos.
Amorosamente, Aliris
agosto/2013