quinta-feira, 29 de agosto de 2013


CONVERSA DE CORREDOR



— Oi, Eusébio!

— Oi, Marina! Há quanto tempo!

— É mesmo, Eusébio, faz tanto tempo que a gente não se vê nem nos elevadores nem nos corredores.

— É, a gente chega ao Tribunal, se debruça no trabalho e não tem tempo de ver ninguém, além dos colegas que estão na nossa sala!

— Sabe? Isso tem me preocupado muito. É o mesmo com a família e os amigos! A gente não para de correr. Os tempos modernos estão exigindo de nós cada vez mais. Não sobra tempo pra mais nada.

— Dizem os entendidos que é culpa da vida moderna. Não sei! Mas sabe, Marina, isso, em breve, vai mudar na minha vida.

— Você já descobriu como resolver isso?!! Eu também quero essa fórmula mágica!

— Não vou exatamente resolver esse problema mundial! Eu é que vou mudar de vida: vou me aposentar!!! Já estou com 34 anos de serviço e, logo logo, vou viver a vida que pedi a Deus!

— Mas não é só você! Eu já vou completar 30 anos de serviço e, pra mim também já está chegando a hora tão esperada!

— É, mas essa mudança, às vezes, me deixa preocupado. Mudar de um dia pra o outro... não sei se vou me adaptar!

— Eu também já pensei sobre isso e confesso que, ao lado da vontade de não ter horário, ter tempo livre pra fazer o que quiser, vem um certo desconforto. Não sei como será!

— Já que estamos falando nisso, você já foi à Seção de Legislação de Pessoal pra ver quando você pode se aposentar?

— Ainda não. Não sei se por falta de tempo ou por fuga! Mas eu soube que os aposentados aqui do Tribunal — dizem que eles são organizadíssimos — escreveram o Manual de Aposentadoria, que dá todas as dicas, não só da parte legal, mas também passa emoções e experiências vividas, além de sugestões.

— Eu não sabia disso! Onde se consegue esse Manual?

— É a coordenação do PGQVT* que distribui. Vou passar lá no ProSocial** e pegar um pra mim e um pra você.

— Que bom! Pegue mais um, por favor. Eu tenho uma colega que vai se aposentar por problemas de saúde e, com certeza, como ela está de licença há algum tempo, não deve conhecer esse Manual. Ele é recente?

— Não sei, Eusébio! Mas eu passo lá pego três e levo dois pra você.

— Você promete?!

— Hoje eu estou muito atrapalhada, mas, amanhã, sem falta, levo lá na sua sala.

— Bem, enquanto a gente não se aposenta, o jeito é correr. Tchau, Marina. Te espero amanhã!

— Tchau, amanhã, sem falta!


MARINA CUMPRE SUA PROMESSA



— Eusébio, eu trouxe o que prometi!

— Oi, Marina! Não via a hora de você chegar com o Manual. Ele é mesmo interessante/!

— Muito! Veja! Ele tem resposta pra quase todas as nossas perguntas. E, além disso, nos faz refletir sobre coisas que ainda não tínhamos pensado. Traz também dicas e sugestões.

— Deixe-me ver do que se trata. Você está mesmo muito interessada.


* Programa de Gestão em Qualidade de Vida e Trabalho
**Programa de Saúde da Secretaria de Programas e Benefícios Sociais do TRF-1ª Região.

(Texto de abertura do livro  Aposente-se: o único risco é ser feliz! publicado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, outubro de 2003.)



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

NO DIA DOS PAIS


Minha homenagem a quatro homens e uma mulher que, cada um a seu modo, têm um lugar especial no meu coração: meu pai, o pai de meus filhos, meu filho que também é pai, meu neto que, tenho certeza, a seu tempo também será um grande pai, e minha filha Mauren que, ao ser mãe, viu-se na contingência de tornar-se “pãe”.
Todos eles que, à primeira vista, parecem tão diferentes, na realidade são iguais na essência, no amor, na dedicação à família, no cumprimento do dever, no ombro amigo dos momentos difíceis, no partilhar alegrias e conquistas.

 

Falar de meu pai, Alyrio, que há mais de 30 anos se mudou para o céu – não o imagino em outro lugar! – é uma delícia. Nunca me permiti tristeza pela nossa separação, porque a sua forma de aceitar e sentir a vida sempre me inspirou alegria.
Na infância soube brincar com as três filhas como se fosse mais uma criança; participou de nossos sonhos e vaidades adolescentes; recebeu os genros como os filhos que não teve; enquanto a saúde lhe permitiu, conviveu com os netos que guardam doces e pitorescas recordações desse avô. Tudo isso sem falar das fantásticas histórias que povoaram o meu imaginário infantil e o das minhas irmãs.
Ele, é claro, era sempre o grande herói. Uma cicatriz que tinha no polegar direito era a prova da mais fantástica das histórias. Aquela cicatriz era, nada mais nada menos, do que a marca que ficou da sua luta com o lobo da floresta em que costumava brincar. Essa é uma das histórias que conto a meus netos que se emocionam com esse bisavô que, como explico, usando o linguajar deles, era o “maior legal”.
Pai, contigo aprendi que viver é muito mais que cumprir deveres: é amar, é compartilhar bons e maus momentos com a nossa presença, sem muito explicar ou explicar-se. Te amo muito!

Meu marido, Nilceu, o pai que escolhi para meus filhos, grande companheiro e amigo há mais de 40 anos.
Pelas exigências profissionais impostas pelo mercado de trabalho do último quartel do século XX, ele soube muito bem equilibrar-se no papel de marido, pai, profissional e provedor da família, uma vez que se entregava com afinco ao trabalho para que eu pudesse me dedicar quase que exclusivamente aos três filhos. Nesse período, eu apenas trabalhava nas horas em que ele pudesse me substituir.
E, tenho certeza, os filhos gostavam muito dessa troca. Os quatro corriam dentro de casa, pareciam todos crianças: ele dava as soluções mais inusitadas aos problemas que surgiam, nunca faltava refrigerante nem chocolate para regar e adoçar as brincadeiras. Enfim, tudo muito divertido, bem ao gosto da meninada!
Mas havia também os apuros: ele, para o desespero dos filhos adolescentes, diante dos colegas, os chamava pelos apelidos que eles preferiam não ultrapassem as fronteiras da intimidade ou pelo fato de ouvir em casa músicas de Nelson Gonçalves em alto e bom som.
Ah, se todos os problemas fossem apelidos ou músicas antigas! O mundo seria outro e muitíssimo melhor! Hoje, eles já adultos vivem outros tempos e cantam com o pai músicas antigas, mas eternas, no videoquê, em nossas gostosas reuniões com a família e os amigos.
Velhinho, tenho certeza, não decepcionei nossos filhos com o pai que escolhi para eles. Muito mais que isso, tu és para eles o esteio, o ombro amigo – embora severo – de todas as horas. Posso te dar um conselho? Eles já estão adultos, não precisa mais ser severo, oferece apenas o ombro amigo e deixa tua opinião expressa apenas nas entrelinhas.
Nilceu, contigo aprendi que, por mais difícil que seja uma situação que se nos impõe, ela sempre traz algo de positivo ou tem uma lição a nos ensinar. Te amo muito!


Meu filho, Junior, um casulinho fechado, que eu entendo apenas pelo olhar, relutou um pouco em ser pai, não por medo, mas pelo excesso de responsabilidade.
Quando o vejo com Isabela muito aconchegada e cheia de segurança no seu colo, me vejo criança tal a semelhança entre meu pai e meu filho, quer no aspecto físico, quer no modo de ser.
Logo que a filha nasceu, conversou longamente comigo sobre como lhe garantir uma boa educação, segurança, estabilidade. Nesse nosso “filosofar”, falamos sobre o pouco ou nada que as palavras educam e na importância dos ensinamentos que transmitimos pela “atmosfera” do viver de cada dia, ao longo do tempo, mas lembrei-lhe que nunca esquecesse que deveria amá-la  sobretudo quando ela menos merecer porque é, certamente, quando ela mais precisará.
Junior e Isabela, hoje com 5 anos, têm brincadeiras que são só deles, como arrumar a geladeira da casinha dela ou curtir a coleção de carrinhos que fazem juntos. Esses doces momentos tão importantes hoje, tanto para um como para o outro, muito mais o serão quando vistos através do túnel do tempo. Tenho certeza, ela será, como outras marcantes figuras femininas da nossa família, muito segura e muito “dona do seu nariz” porque viveu doces momentos na infância em meio ao carinho responsável que permeia o dia a dia daquela casa.
Junior, contigo aprendi – de maneira doce, mas firme – alguns limites que as mães frequentemente esquecem. Te amo muito!


Meu neto, Eduardo, que, infelizmente, não teve a presença constante do pai, muito se resentiu por essa situação. É certo que soube – com a presença constante de sua pãe e o apoio de toda a família – muito bem conviver com a sua realidade nem sempre fácil, embora aceita de maneira natural e amena.
Como ele também já gosta de “filosofar” comigo, sempre me fala como vai cuidar dos filhos dele: pretende ser muito companheiro e assistir com eles a muitos e muitos filmes. Como é bom quando a falta, em vez de marcar negativamente, nos faz melhores e mais atentos!
Eduardo, é isso mesmo! Esquece o que não foi bom e transforma tudo em vivências amorosas que, embora não preencham lacunas, te possibilitarão, um dia, viver com doçura a relação pai-filho. Contigo comecei a aprender a ser avó, uma das mais ricas experiências de vida e estou sempre sendo lembrada, por uma frase que tem a “tua cara”: a coisa mais importante na nossa vida é a família! Te amo muito!


Minha filha Mauren, a pãe, ainda muito jovem, foi gigante ao assumir, a um só tempo, maternidade e paternidade.
Eduardo, hoje com 10 anos, tem uma relação muito peculiar com a mãe: ele a vê como mãe, pai, irmã, amiga, provedora do lar, tudo com muita simetria, o que, às vezes, exige um grito para deixar claro quem manda e quem tem de obedecer.
A vida, na casa deles, é muito divertida, os problemas têm as soluções menos prováveis possíveis.Tudo com muito riso e a cumplicidade dos dois.
Mauren, a vida, às vezes, nos impõe responsabilidades que não prevíamos, mas te vejo altiva diante da tua realidade. Em todos os papéis, tu deste ao Eduardo amor, segurança, tranquilidade, companheirismo e já estás começando a colher os frutos da tua dedicação. Neste momento, como as sementes foram lançadas em terra fértil, agora só é preciso cuidar para que não sejam contaminadas por ervas daninhas, é hora de cuidar um pouco mais para ti. Tu sabes muito bem como fazê-lo.
Minha filha, contigo tenho aprendido a deixar as coisas acontecerem por si sós, sem precipitações, angústias, antecipações.Te amo e te admiro muito!

Penso ter homenageado cada um deles ao expressar meus sentimentos, minha gratidão e a certeza de que todos eles – cada um no seu papel – tiveram relevância decisiva para que eu seja o que hoje sou: filha, esposa, mãe e avó que curte, com emoção e alegria, cada uma dessas facetas da vida. E mais, todos eles continuarão a me inspirar e a me ensinar vida afora como têm feito ao longo dos anos.


                                                      Amorosamente,   Aliris
                                                                 agosto/2013