AMOR-PERFEITO
(Minha jardineira)
Que
amor de flor, não é mesmo?! Ela nos encanta tanto pela policromia exuberante
como pela singeleza de suas flores. O conjunto de algumas, então, deslumbra
nossos olhos e enternece nossos corações!
Amores-perfeitos,
aqui e ali, estão presentes na minha vida. Meu pai, um apaixonado por flores,
todo início de primavera, costumava plantá-los, num canteiro, à esquerda da
entrada da nossa casa, e eles floresciam até o início do outono. Nós, as
filhas, bem ao estilo “anos dourados”, escolhíamos as que mais nos encantavam e
guardávamos entre as páginas de livros grossos para que, mesmo secas,
ficássemos com elas por mais tempo. Por muitos anos, vez por outra, ao folhear
livros antigos, ainda encontrava uma flor seca que sempre me emocionava. E,
acredito, se procurar bem entre os meus “guardados”, ainda encontre alguma.
Com
essa vivência tão terna, tão rica, vida afora, sempre que tive oportunidade,
parei, com carinho, para admirar essa flor que, além da beleza, fala cheia de
intimidade com a minha sensibilidade, a minha saudade...
Por
isso, quando minha filha Raquel e o genro, Rodrigo, me disseram que iriam
oferecer sementes de amor-perfeito como lembrança do casamento deles, fiquei
emocionada. E, mais emocionada ainda fiquei, quando vi as lembrancinhas
prontas.
Após
o casamento, no início da primavera, como fazia meu pai, plantei as minhas
sementes numa jardineira que, pouco tempo depois, ficou, encantadora,
belíssima! Pensei que, exatamente como eles escreveram, “quem planta amor,
colhe felicidade”, e não pude deixar de refletir sobre o milagre de uma
minúscula semente ou de breve olhar se transformar de maneira tão exuberante.
Admirei
meus amores-perfeitos, cuidei deles, mas não com a dedicação necessária. O resultado
não poderia ser outro: eles foram ficando mais acanhados, alguns murchos e
outros até morreram com flores ainda por abrir.
Há
poucos dias, numa manhã ensolarada, resolvi cuidar deles com mais atenção:
cortei flores murchas, afofei a terra, pus pequenas estacas em alguns e plantei
novas sementes nas falhas para recuperar a beleza exuberante da minha
jardineira. Ao fazer essa tarefa, foi inevitável refletir sobre a felicidade que
colhe aquele que planta. Sim, revivi a experiência: plantei sementes e elas
floriram...
E
a analogia foi inevitável! Assim é o amor, ele chega a nossas vidas sem muito
explicar e nós o acolhemos com ternura e reservamos para ele lugar especial em
nossos corações, tal como a terra fofa e fértil da jardineira em que semeei
meus amores-perfeitos. Mas para que a florescência tenha vida longa e seu
encanto seja, “eterno enquanto dure”, como disse Vinicius de Moraes, é preciso
dedicação diária, “adubação” periódica, limpeza das “ervas daninhas”, atenção
para essa ou aquela necessidade, às vezes, como fiz, apoio para que não feneça
e possa continuar produzindo seus milagres e, com eles, as novas sementes, a
possibilidade única do verdadeiramente eterno.
Enfim,
minha manhã foi abençoada: me proporcionou uma saudade gostosa, me fez refletir
sobre o simples que muitas e muitas vezes esquecemos. Espero, apenas, que não
tenha sido tarde demais e eu possa recuperar toda a beleza da minha jardineira
multicolorida de amores-perfeitos. E, principalmente, que aqueles que me lerem
possam, como eu, parar, refletir, sentir e, sobretudo, amar, com sensibilidade,
dedicação, respeito.
Amorosamente,
Aliris
18.02.2017
Ao ler o texto lembrei da floreira que o pai cuidava. Era linda...
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