MENSAGEM A MEUS FILHOS
(De Aliris para Junior, Raquel e Mauren)
Hoje, com 72 anos, ao fazer uma retrospectiva da minha vida, posso
afirmar que meu saldo é positivo, tenho muitas dúvidas e pouquíssimas certezas,
uma delas é que tenho mais passado do que futuro e, por isso, vivo o presente
da melhor maneira que posso e, na medida do possível, só faço o que gosto.
Nesta já longa caminhada, em se tratando de família, sei o
quanto elas mudam: chega gente nova que vai substituindo aqueles que já não
estão mais entre nós, as uniões trazem pessoas que antes nem sabíamos que existiam
e que logo se tornam também nossos familiares com lugares cativos em nossos
corações.
A nossa família, como não poderia deixar de ser, não foge a
essa regra e já apresenta novos contornos: gente nova, que nem é mais tão nova
– Nonô, Dudu, Bebela e Rodrigo – mas também um fato que abalou todos nós. Esse
fato exigiu que extrapolasse meus limites para enfrentar os novos e difíceis
desafios. Sei que não apenas eu, mas cada um de vocês vem assumindo papéis que
até então não lhes cabiam. Diante disso, sinto que estamos mais e mais unidos
para que, juntos, possamos dar conta do que recebíamos pronto, sem preocupação,
de forma tão natural que nem percebíamos o que estava subjacente. E, além disso,
e principalmente, a dor de cada um de nós ao ver aquele facho de luz que guiava
o nosso caminho se tornar, a cada dia, um pouco menos brilhante.
Agora, além do que já havia para fazer, estamos todos diante
de uma nova missão: cuidar do nosso cuidador. E ele merece o melhor de cada um
de nós, especialmente de mim, sua companheira de jornada há mais de 50 anos.
Nesse nosso longo tempo de caminhada, aprendi a conhecê-lo “como a palma de
minha mão”; sei o que está sentindo ou pensando apenas pelo olhar, respirar,
caminhar.
Neste momento,
sinto-me confortável com a herança ética, fraterna, amorosa e prática (não
encontrei palavra melhor!) que foi legada a vocês. Cada um tem princípios para
nortear sua vida, mas sinto-me no dever de sintetizar em cinco breves tópicos o
que talvez vocês ainda não tenham se detido para pensar ou se são coisas que só
entendemos com mais idade. Aliás, a idade nos ensina maravilhas!
Como seria bom que os filhos, quando muito jovens, ouvissem os pais. Com
certeza, poupariam erros e sofrimentos inúteis, mas ninguém aprende senão com
as próprias experiências.
Respeitar sempre o tempo do outro; cada um tem sua própria maturação.
Escolhas são individuais: o que é bom para um nem sempre serve para o
outro.
É preciso amar aqueles que amamos sobretudo quando menos merecerem porque
é quando mais precisam.
Bom seria se pudéssemos comprar a vida em grandes parcelas, mas só
podemos comprar um pouco por dia. (João Cabral de Melo Neto, em citação livre.)
Espero que esta mensagem seja útil a vocês. Compartilhem com
Nonô e Rodrigo; com Dudu e Bebela, no momento que julgarem oportuno, eles ainda
são tão jovens...
Acredito, sem muita certeza, que tenha conseguido, ao longo
da vida, expressar em atos o que hoje recomendo a vocês. Lembrem-se: eu antes
de chegar à idade que hoje tenho, tive a idade de vocês e também passei pelas
que vocês já passaram. É ... a vida, um eterno continuum!
Amorosamente
— outubro 2019
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