quinta-feira, 2 de maio de 2013


AS SILENCIOSAS HISTÓRIAS


Objetos, músicas, flores, sabores, plantas, ruas, cores... guardam histórias diferentes para diferentes pessoas.


Assim é minha máquina de costura. Há muito sem uso, mas de uma imensa carga de amor que revela preocupação, amor filial, proteção, enfim tudo que uma criança de quatro anos pode fazer para minimizar o “trabalho” da mãe e, com isso, expressar seu amor.


Quando Junior, meu filho mais velho, era pequeno, eu costumava reunir as peças de roupa que precisavam de conserto para, numa tarde de folga, ir à casa de D. Aurora, minha sogra, fazer-lhe companhia e repará-las, já que eu não tinha máquina de costura. Junior ia comigo e, enquanto eu consertava as peças, batia papo com D. Aurora, ele brincava distraidamente e, então, os três tomávamos o inesquecível café da tarde que ela preparava com tanto desvelo. Nunca imaginei a percepção do Junior sobre aquelas tardes. As crianças, muito mais que os adultos, leem sutilmente nas entrelinhas!


Era assim essa faceta da vida familiar que teria certamente sido esquecida não fora a interferência do Junior que, certo dia, disse ao pai:


“— Pai, aqui está o meu cofrinho! Com esse dinheiro, quero comprar uma máquina de costura pra minha mãe pra ela costurar em casa.”


O pai concordou com ele e, como estava próximo do Dia das Mães, num sábado de manhã, foram juntos comprar a máquina de costura, supostamente apenas com o dinheiro do cofrinho. Junior, na sua doce inocência infantil, me deu, “com suas economias”, um belo e inesquecível presente naquele Dia das Mães.


Mais de trinta e cinco anos se passaram, muito usei aquela máquina, sempre sentindo vibrar o amor que dela emana. Nesses anos todos, Junior sempre soube escolher presentes especiais para mim, que me surpreendem pela utilidade e pela sensibilidade de saber o que, de fato, vou gostar. Isso só se explica pelas afinidades de longa data... que, com certeza, remontam a esta nossa breve existência.


Hoje já não costuro mais, prefiro fazer tricô, ler, escrever, brincar e conversar com os netos Eduardo e Isabela, esta filha do Junior. Por essa razão, resolvi doar minha máquina para uma pessoa que, hoje, está na busca da sua profissionalização e, para isso, precisa de uma máquina de costura, que, embora antiga, funciona muito bem.


Essa atitude é espelhada na de meu filho e espero que a máquina e essa breve história sejam úteis: a máquina no aspecto material e a história que contei no campo afetivo. Tenho certeza, a preocupação, o carinho, o amor serão sempre profícuos, fonte de novos e nobres sentimentos...


Assim é a vida: o amor se espalha, se expande e é por isso que amar nunca será inútil, mesmo quando expressso em gestos pequenos ou infantis. Estes, nós, adultos, precisamos de sensibilidade para entender, já que a dimensão da alma das crianças é imensamente maior que a nossa.



                                                      Amorosamente, Aliris
              16.04.2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário